Você Não Está Só #2

Capítulo 2 — Jogo do Copo

Anteriormente…

Dias após a morte de seu irmão, Ian tem um pesadelo envolvendo uma figura misteriosa de manto escuro e chapéu. Como se não bastasse, ele tem certeza que o enxergou no mundo real. Temendo estar enlouquecendo após tantos lutos, ele manda uma mensagem para sua melhor amiga…

você, como sol, brilhante

eu, como lua, escondido

só existo com seu brilho.

 

a mensagem vem rastejante

sangue escorre para ser lido

aceito queimar com o brilho.

Jogo do Copo.

Capítulo 2 — Jogo do Copo

Revisão: Bianca Ribeiro

Abro a porta do terraço do prédio, ofegante e com dor nas panturrilhas. Coloco as mãos nos joelhos. Levanto o queixo apenas um centímetro, uma fina camada de névoa fria se espalha pelo ambiente. Uma silhueta dá um passo em direção à queda do nono andar, as mãos se firmam nas hastes de ferro vermelhas que delimitam o espaço.

Deixo a porta bater e caminho até a pessoa em passos muito, muito lentos. Ou será que o chão está se alongando cada vez mais? Parece haver uma vida de distância entre nós. Acelero os passos até que estou correndo. Quanto mais esforço faço, mais distante a pessoa parece ficar de mim. Sinto o coração subir pela boca, batendo tão forte que poderia parar. A névoa me envolve num véu gélido que faz todos os meus ossos doerem.

Minha mãe olha por cima do ombro e exibe um sorriso gentil. Ouço um ruído estridente, embora baixo, no fundo da consciência. Perco velocidade, a respiração volta a entrecortar e as pernas doem. Eu não vou conseguir alcançá-la antes que caia. As lágrimas ameaçam desabar, porém, consigo segurá-las ao apertar os olhos com toda a força que existe em meu ser.

Uma nova silhueta surge no meio da névoa, primeiro difusa, sacolejando como uma chama obscura, depois ganhando forma humana. Fica parada ao lado da minha mãe, alta e vestindo um casaco-sobretudo preto. Por que ele está aqui? Por que está tão próximo da minha mãe? Ela volta a contemplar o horizonte onde as nuvens se despedaçam como fragmentos de um sonho…

Sonho! Eu estou sonhando! Arregalo os olhos, surpreso em conseguir distinguir as coisas. O Chapeleiro também me olha por cima do ombro, mas seu sorriso não é nada gentil. Mesmo a essa distância enorme eu consigo ver toda a perversidade que exala de seus dentes apodrecidos. Um braço esguio coberto de sombras sai de dentro de seu sobretudo e encosta nas costas dela.

Não, não, não, fico repetindo na minha cabeça e a voz ecoa no ambiente junto do ruído estridente que está um pouco mais alto. Avisto de relance um risco vermelho debaixo da aba do chapéu-coco, fico paralisado como em nosso primeiro encontro. Falta o ar em meus pulmões, perco a força nas pernas e caio de joelhos. Estico a mão na direção dela, torcendo que possa alcançá-la por estar em um sonho, mas o Chapeleiro tem controle do pesadelo.

Minha mãe sacode o corpo para frente, as mãos apertam o metal na tentativa de não cair. Gira o corpo, buscando equilíbrio com as costas já encostadas no ferro. Estica uma mão em minha direção, os olhos assustados veem o terraço uma última vez antes de seu corpo mergulhar em queda-livre.

Sobressalto no sofá, sentando-me com os pés no chão. O barulho estridente de antes martela nos ouvidos. Vem do interfone que deve estar tocando há vários minutos. Esfrego os olhos com bastante força, voltando ao mundo real, afastando as cenas do pesadelo que parecem reais demais. O celular vibra do meu lado. Melissa enviou várias mensagens.

 

[19h24, XX/XX/XXXX] Melissa: sou eu na porta, atende

[19h25, XX/XX/XXXX] Melissa: se vc não atender eu vou invadir!!!!

[19h25, XX/XX/XXXX] Melissa: olha que eu sou louca, hein

[19h26, XX/XX/XXXX] Melissa: IAAAAAAAAAAAAAAAAAAAN

[19h26, XX/XX/XXXX] Melissa: IAaAaAaAaaAaAaAn

[19h27, XX/XX/XXXX] Melissa: pelo amor de DEUS eu vou chamar a polícia pra arrombar tudo se vc não atender

[19h28, XX/XX/XXXX] Melissa: Ian, não me assusta desse jeito…

[19h28, XX/XX/XXXX] Ian: Desculpa, eu dormi.

 

Leva menos de dois segundos para ela parar de tocar no interfone após minha mensagem. Arrasto os pés até o aparelho, aperto o botão e consigo escutar o estalo do portão fechando em seguida. Preciso colocar uma roupa adequada para recebê-la. Após decidir que não iria sair, eu retornei a bermuda solta de pijama e uma camiseta amassada que uso para passar dias preguiçosos.

Quando ela entra no prédio, coloco uma camiseta florida e as calças de moletom Adidas que ela me deu de aniversário na altura das coxas quando a campainha toca alto. “Estou indo”, aviso gritando e termino de me vestir. Saio tropeçando de pés descalços até a porta que abro sem ao menos conferir no olho-mágico.

Melissa está de braços cruzados e olhos apertados com os cachos abertos e rosados emoldurando seu rosto como uma boneca de pele um pouco mais escura que a minha. Mostro um sorriso sem dentes, desconsertado. Embora tente manter uma postura brava, seus olhos castanho-escuros estão cheios de preocupação e alívio. Peço desculpas baixinho, virando o rosto com vergonha.

— Nunca mais faz isso, tá?

— Certo…

No momento seguinte ela entra sem pedir licença. Lança a mochila no sofá seguido de seu corpo. Deita a cabeça na mochila, esfrega os pés e derruba os All Stars com dois baques no chão. É difícil conter o sorriso ao vê-la tão à vontade e mais difícil ainda sustentá-lo quando Melissa me olha de repente. Desvio o rosto, mas dou uma espiadinha e a vejo desviar também.

— Pelo visto você não passou em casa antes de vir.

— Você me deixou preocupada. Precisava ver se estava tudo bem.

Precisava saber se eu não tentei partir, corrijo mentalmente, mas ameaço sorrir pela preocupação dela comigo. Contenho-o  pelo medo de parecer egoísta demais. Me escondo na cozinha para que ela não perceba a felicidade que sinto por vê-la se importar comigo. Prefiro evitar o risco de ela ouvir meu coração batendo assim tão forte. Melissa puxa o celular de dentro da mochila e noto como sua expressão fica mais suave.

Abro a geladeira tentando não pensar no que aquela expressão possa significar. Sei que Melissa não está namorando ninguém. Terminou o namoro de quase um ano com Bianca há umas duas semanas. As duas se conheceram em uma cervejada da faculdade, conversaram por semanas e iniciaram um namoro meio apressado. No começo era tudo perfeito, mas aos poucos Melissa foi notando que estava ficando sério demais. Quando Bianca falou sobre talvez morarem juntas uma sirene tocou na cabeça de Melissa. O término aconteceu pouco depois disso.

— Quer comer alguma coisa? — indago com a geladeira aberta.

— Comi antes de sair do campus. Tem cerveja?

Ela nem precisava pedir. Sempre que ela vem aqui em casa bebemos juntos. Às vezes meu irmão se juntava às nossas conversas e bebedeiras. A ideia me faz abrir um sorriso carregado de melancolia. Infelizmente isso não vai acontecer essa noite, mas isso não me impede de lembrar de quando ficávamos os três até altas horas conversando e os assuntos fluíam em caminhos aleatórios. Tínhamos idades parecidas, Melissa é quatro meses mais nova do que eu, então nunca faltava o que falar.

Suspiro com duas garrafas de Polar e deixo a porta bater atrás de mim. Podíamos ter nos conhecido antes da faculdade se minha mãe tivesse se mudado para cá mais cedo, pois Melissa mora neste bairro desde a adolescência. Seríamos os três mosqueteiros.

— Geladinha como tu gosta. — Sacudo a garrafa no ar, ao lado dela, tentando afastar os pensamentos melancólicos que se acumulam

— Alguém gosta de cerveja quente?

— Tem louco pra tudo.

Ela estica o braço para pegar a bebida e o moletom e blusa levantam mostrando parte de sua barriga. Há uma enorme cicatriz de queimadura que cobre parte do estômago e sobe pelo lado direito. Ela nunca me contou como sofreu aquilo. Finjo não ter percebido para não deixá-la constrangida. Melissa enrola as roupas na mão para forçar a tampinha e vira um gole generoso. Imito suas ações e tomo um gole menor, pois tenho certeza de que meu estômago vazio vai cobrar depois.

— Como foram as aulas?

— Nada demais. Escolheu um bom dia para faltar.

Forço um sorriso bobo antes de virar outro gole.

— A parte ruim de ter faltado é que te vi menos.

— Bobo.

Seu, tenho vontade de responder, mas fico calado. Puxo uma cadeira da mesa de vidro e me sento. Bruno costumava sentar aqui quando a família se reunia para comer. Coloco o braço em cima do vidro, apoio a bochecha no punho fechado e desço os olhos até a mulher mais linda desse mundo que está bebendo e mexendo no celular no meu sofá.

Um sorriso desabrocha sem que eu tenha controle.

Melissa é linda, inteligente, carismática, doce e gentil. As pessoas costumam adorá-la. Minha mãe a amava, falava que era uma filha que nunca teve. Na faculdade, diferente de mim, que salta de grupo em grupo, ela tem amizades sólidas desde o começo da graduação. As pessoas não se cansam dela como se cansam de mim.

— Por que acha que enlouqueceu? — Melissa dispara de repente, baixando o celular e me encarando.

— Não é nada, só dormi mal.

— Você mente muito mal.

Concordo, fechando o sorriso e tomando outro gole.

— Você vai me achar louco. Pior, vai sair correndo de mim.

— Eu não vou fazer nada disso.

— Acredita em mim, você vai. Eu faria.

— Experimenta.

Tomo um gole seguido de um suspiro. Como posso negar um pedido de Melissa quando seus olhos me observam com tanta suavidade e as sardas ao redor deles me lembram as estrelas de um céu limpo de verão? Ela me tem na palma da mão e sabe disso. Passo os próximos minutos explicando sobre minha paralisia do sono, como minha família teve algo parecido pouco antes de morrer e as coisas que vi e sonhei hoje. Ela ouve tudo prestando muita, muita atenção.

Fico esperando que me traga uma hipótese diagnóstica, pois ela é uma das alunas mais inteligentes do curso de psicologia. Talvez sugira pareidolia já que gosta de neurociências ou se mantenha no campo das psicoses. Um transtorno de estresse pós-traumático não resolvido até pode explicar essas coisas. Minha mãe tinha perdido a tia não fazia muito tempo quando teve os primeiros sintomas. Tomo outro gole, posso ver os pensamentos martelando fundo no crânio dela, unindo as peças do quebra-cabeça. Melissa vira o resto da cerveja e coloca a garrafa no chão.

— Você acha possível sua família estar sendo assombrada?

Balanço a cabeça para os lados. A voz dela não vacilou e seu rosto manteve-se sério. Fico sem encontrar as palavras certas até que ela arregala os olhos e balança o rosto insistindo numa resposta.

— Como em um filme de terror? — Melissa concorda. — Por acaso ficou bêbada? Quanto de álcool tem nessa cerveja? — Debocho e olho o rótulo mostrando 3% de índice alcoólico.

— Eu sei que você não costuma acreditar nessas coisas.

— Eu nunca acredito nessas coisas.

Melissa joga os pés para fora do sofá, sentando-se com os dedos pressionando o topo do nariz. De olhos fechados, ela suspira. Já tivemos conversas assim antes. Sei como a espiritualidade é importante para ela. Eu não me considero ateu nem nada do tipo, apenas não acredito que o espiritual faça alguma diferença no cotidiano. Por que alguém continuaria vivendo nesse mundo após sair dele?

— Qual sua explicação lógica? — Melissa tem um olhar sério.

— Histeria coletiva.

— Que só ocorre em espaços de tempos bem delimitados e próximos de uma tragédia dessa magnitude?

A voz dela não tem nenhum julgamento, mas a confusão é evidente. Dou de ombros, não quero aceitar, mas ouvir seu questionamento fez parecer a hipótese extremamente burra. Começando pelo fato de que o histórico de histeria coletiva é um grande ponto de interrogação no meio científico. Além disso, o histórico indica que o ocorrido era simultâneo entre as pessoas.  — Pode ser pareidolia.

— Qual foi o estímulo que te fez enxergar esse cara de chapéu?

— As sombras…?

Melissa balança a cabeça fazendo uma careta de confusão.

Ela fica linda até desse jeito, o pensamento cruza minha mente e acabo tendo que reprimi-lo antes que acabe sendo vocalizado. Isso seria terrível. Diminuiria seus sentimentos, faria parecer que estou debochando dela, e provavelmente terminaria com ela me detestando. Se isso não acontecer, o resultado pode ser ainda pior: ela dar bola para um cara problemático cujo destino é a tragédia.

Prefiro encolher mais os ombros e permanecer em silêncio. Minha próxima hipótese é a psicose e esse eu tenho medo de falar em voz alta.

— Você nunca teve uma experiência paranormal? Nem mesmo na infância?

Melissa coloca as duas mãos no sofá, o rosto desvia um pouquinho. Parece sútil, muitas pessoas não devem notar, mas quando ela faz isso é por estar lembrando de alguma coisa que tem vergonha de contar. Talvez ela tenha enfrentado experiências assim na infância, de coisas que a fizeram crer no sobrenatural. Isso significa que preciso tomar cuidado na minha resposta, pois será a partir dela que Melissa se sentirá confortável ou não em compartilhar as experiências pessoais comigo e eu quero muito saber tudo sobre ela.

— Eu sofri de terror noturno, mas isso tem explicação científica. Minha mãe achava não ter. Falava que havia um demônio dos sonhos nos atacando, realizava inúmeras orações todos os dias para nos livrar disso.

— Por que está usando o plural? Seus irmãos também sofriam disso?

Concordo em silêncio.

Baixo a cabeça e abro um sorriso distante.

Jonas sofreu com isso a vida inteira. Acordava no meio da madrugada aos berros vez ou outra. A mãe corria até o quarto, orava, ficava uns minutos até ele dormir e ia até as outras camas pedir proteção ao deus dela. Eu não sei se ele continuou enfrentando isso após sair de casa, mas quando retornou, após a partida da mãe, ele teve vários episódios; e sem ela por perto, começou a beber descontroladamente para evitá-los.

— Desculpa. Eu não queria te fazer pensar em coisas tristes.

— Não precisa se desculpar, Mel.

Falo isso do coração. Pensar nos meus irmãos não é doloroso. São momentos da minha vida e fazem parte de mim. A dor está no fato de não ser possível fazer novas memórias com eles. Mesmo assim, sei que ela não vai se sentir menos culpada. Posso ver em seu rosto como está se julgando por me fazer lembrar da família que perdi. Ela só não entende que essas memórias não são evocadas somente quando estamos conversando; elas são fantasmas que me assombram todos os dias desde o primeiro incidente.

Essas cenas, essas vozes, esses momentos… tudo isso aparece todos os dias. Os fantasmas do luto não precisam de gatilhos para nos assombrar porque eles estão sempre do nosso lado. Fazer uma pessoa entender sem nunca ter vivenciado é quase impossível, por isso eu não tento explicar. Apenas me levanto, vou até a cozinha, sirvo dois copos de água gelada e retorno.

Melissa bebe rápido e fica olhando o copo vazio.

— Por que não fazemos o jogo do copo?

— Jogo do copo? Aquele que é uma versão barata do tabuleiro ouija?

— Esse mesmo. Já fez alguma vez?

Claro que a minha resposta é não. Quando era pequeno isso se tornou uma febre nas escolas, assim como chamar a Maria Degolada no banheiro três vezes. Muitos colegas faziam escondidos nos banheiros porque havia sido proibido pela direção. Como eu era bolsista integral, eu nunca nem cogitei me envolver com aquelas coisas, mesmo quando era impressionável. Precisava manter o esforço feito pela minha mãe para eu ter uma educação de qualidade.

Solto um longo suspiro. Devia ter ido à aula apesar das alucinações. Eu ainda sou bolsista. Fui o único dos três que saiu do Ensino Médio e caiu na Universidade e se me formar serei o único da família materna com um título superior. A culpa me faz sacudir a perna direita com a possibilidade de a falta de hoje acabar não sendo abonada mesmo com a justificativa do luto e isso me prejudicar no futuro.

— Vamos fazer? — A voz de Melissa me tira da espiral de pensamentos.

Olho o copo nas pequenas mãos dela. Eu não vejo motivos para não aceitar. Se ela acha que pode ajudar e quer tanto fazer, por que não? Tenho certeza de que nada acontecerá. O mundo espiritual é apenas projeção do inconsciente.

Dou de ombros, aceitando. Melissa abre o sorriso mais lindo do mundo, mostra os dentinhos de coelho que amo ver todos os dias. Sem querer fico olhando diretamente para sua boca. Não apenas os dentes, mas toda ela. Os lábios, o sinalzinho do lado esquerdo, o formato do queixo, a protuberância do lábio inferior. Levanto os olhos o mais depressa possível e dou de cara com ela encarando minha boca, depois meus olhos, e então nós dois viramos de lado fingindo que nada aconteceu.

— Vou pegar uma folha e caneta para fazermos o tabuleiro.

— Está bem, vou secar o copo.

Poucos minutos depois voltamos a sala. Sentamo-nos no chão, por insistência dela, e ficamos de frente um para o outro. Abro o tabuleiro improvisado feito com cartolina e caneta esferográfica preta. Melissa coloca o copo virado sobre a folha e manda eu botar minha mão esquerda sobre ele, depois coloca a dela. O calor dela se espalha pelos meus músculos como uma bênção.

— O que iremos perguntar aos fantasmas?

— Não fala assim, eles podem se irritar.

Aperto os olhos não conseguindo definir se ela está mesmo falando sério.

— Eu não entendo nada desse jogo, o que você sugere?

— Começarmos pelo básico.

Eu não sei o básico, suspiro, fechando os olhos com ela. Melissa faz  uma oração tradicional, o Pai Nosso que me acostumei a ouvir minha mãe entoar durantes as noites de pesadelos de Jonas. Depois do “amém”, ficamos de olhos abertos. Melissa presta atenção no tabuleiro, mas eu só consigo olhar para ela.

— Tem alguém nesta casa? — A voz dela é doce ao perguntar.

Respiro fundo, baixo a cabeça. Sinto um frio abismal penetrando meus ossos e estremeço por completo. Preciso me concentrar no que estamos fazendo. Passa alguns segundos sem nenhuma “resposta”. Abro a boca para encerrar a brincadeira, mas o copo começa a vibrar.

— É você? — Pergunto, incrédulo.

— Não…

Ela está mentindo. Tem que estar mentindo. Como o copo está se arrastando sobre a cartolina se ela não está mexendo? Ele vai até a letra “A”, deixando a situação ainda mais estranha. Depois, com dificuldade, desliza até outras duas letras, “V” e “O”. Percorre até o centro, ainda vibrando, uma fina névoa saindo de seu interior, fria como o inverno mais feroz.

Os olhos de Melissa estão prestes a cair do crânio e rolar pelo chão.

— Estra—

Antes de eu terminar de falar o copo explode.

Comentário do Autor

Melissa é uma personagem muito divertida de escrever. Ela é inspirada na minha noiva que também tem cabelo rosa e sardas no rosto que são como estrelas. Felizmente minha noiva nunca sugeriria fazer uma brincadeira como o jogo do copo. Agora, porém, o que importa é que cada capítulo será uma nova peça no relacionamento desses dois bobões medrosos se fingindo de corajosos. Aproveite essa jornada de amizade, amor e… fantasmas?

Gogun